segunda-feira, 4 de agosto de 2008

?Las virtudes o los defectos?

Sinto um peso enorme dentro do peito,
como se meu coração fosse uma pedra,
porém, ao mesmo tempo, uma pedra esponjosa,
uma pedra aguda, rachada, com um grande vazio.
Digo esponjosa porque tem vezes
que parece repleta de sentimentos, emoções,
mas outras que está oca, sem sentido.

Neste momento, a tristeza se abate sobre minha face,
só enxergo sombras, também ocas, sem saber
a razão de estarem ali, estarem existindo.
Viver parece uma sucessão de encenações,
cada sombra interpretando um papel superficial.
Agindo, apenas agindo, não refletindo.

Nisso como ficas minha pessoa, que não quer
agir por agir, quer pensar, sentir, não quer ser sombra?
Será que apenas me resta tocar um tango argentino?
Agora que estou lá, as mudanças pensadas serão possiveis?
Será possivel acabar com a encenação e despertar
a vontade de todos movimetarem-se?
Ou será uma besteria, uma infantilidade, querer alterar
o roteiro da peça (não só o enredo, mas a estrutura)?

Perguntas que não querem calar...
Porém mais medo tenho das respostas,
eu não quero aceitá-las, não quero abandonar
o sentimento que faz surgir as perguntas.
Não quero me conformar, sentir a "derrota".


*** Poema dedicado à minha cara Faculdade de Direito do Recife,que tanto vira as costas para seus filhos e filhas, tão repletade sombras. Espero que Ela, que se mostra tão grandiosa, mesmo que seja uma grandeza até piegas, forçada,mas também é tão vazia, tão distante, veja um dia que um filho seu não foge a luta.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O porque do canto do sabiá nunca se calar


Por mais que eu pense e insista em suprimi-las,
idéias não me fogem à mente.
Elas relutam em permanecer, resistem!
Não adianta joga-las ao vazio, já que ficam
e aparecem a cada momento de vacilo.

Idéias tais não me deixam cair no desespero,
não me deixam fugir da realidade,
tiram-me do alto das torres de marfim.
Chamam-me a toda hora para o mundo em que estou,
prendem-me à realidade a qual me rodeia,
trazem para meu ser as aflições alheias,
nao tão alheias assim a minha pessoa
como querem que eu pense,
de modo que é impossivel negar:

Elas são intinsecas a sentimentos,
intimamente ligadas aos sentir o mundo,
a tentativa de desvela-lo, descobri-lo.

(...)

Porém, não se engane,
você que tenta navegar por esses mares sem fim,
com suas ondas furiosas e ventos uivantes
do viver e tentar conhecer o mundo,
o silêncio muitas vezes comunica mais
que dezenas de palavras,
já que nele se dissolvem, em desordem,
uma confusão de sentimentos e vivências.

Crônica sobre o choro de um bebê aos berros

O choro de um bebê pode-nos mostrar, muitas vezes, a aflição, sofrimento e angustia de um ser humano, em toda sua humanidade (ainda nascente), ainda não reprimida pelas convenções e padrões sociais, tão próximo daqueles seres humanos em seus momentos de desespero extremo diante de sua existência. A cada berro seu, um berro longo e profundo, é um palpitar de sofrimento, vindo de suas entranhas. Assim, o choro de um bebê mostra sua aclamação pela libertação de sua situação que o oprime, a qual lhe incomoda, seja esta situação o estranhar do ambiente novo que ocupa, seja uma mão que tenta calar-lhe a boca.

Todos nós que nos dispomos a expelir o que refletimos sobre o mundo, em parte praticamos este grito, este choro, ao nos entregarmos nessas linhas, deixando aqui pairar nossas angustias, sentimentos. Não devemos nos acanhar, ficarmos presos, reprimidos, em escrever, expelir, essas idéias, no meio de cinco ou seis pessoas nos olhando, em meio a um lugar público, repleto de pudores. Temos que perder nosso pudor próprio, não temer nossos sentimentos, temos que ter um choro semelhante ao bebê que não tem medo de expressar seu sofrimento a cada berro seu mais profundo. Cada linha desta crônica e de outras deve ser um berro nosso.

Este mesmo berro, expressão de ânsia por se libertar de algo que tanto oprime, também não pode ser esquecido por aqueles e aquelas que são reduzidos/as a condições de existência subumanas, que apenas sobre-vivem, que a cada dia algo limita-lhes a possibilidade de realizar-se enquanto seres humanos/as, reconhecerem-se como homens e mulheres, como a sua própria maneira de viver-existir. Não devem deixar que calem suas vozes, seus choros, que convenções e padrões sociais, privilégios concentrados a poucos, reprimam-lhes sua ânsia por liberdade, liberdade esta só possível com existência em dignidade de toda uma coletividade. Sim, não se deve deixar a mecanização da vida cotidiana, a reificação dos homens e mulheres (estas caladas em sua voz também ao serem escondidas atrás dos homens e toda uma linguagem em plural no masculino que engloba o feminino) em desejos artificiais de consumo, cale as expressões por um existir mais humano, para isso todas as armas valem: pedras, poesia, noites.

Assim como um bebê não deixa que sua mãe, envergonhada por seu filho chamar a atenção de todos e todas com seu choro, cale seus berros, escancarando o que sente, sua profunda dor, os sujeitos em sua situação de marginalizados devem voltar a seu espírito de recém-nascidos, não temendo pudores que os adultos detem. Nisso também se insere poetas ao não se acanhar diante do que lhe aguça a sua sensibilidade, seus sentimentos.

Bebês, não deixem esses adultos caretas silenciar-te. Resistam, chorem!

sábado, 21 de julho de 2007

Experiência nº 1

Ideias, pensamentos...
O transfigurar das formas...
Pensamentos que se confundem,
que me confundem, são confusos.
Minha mente está vazia,
ao mesmo tempo que jorram idéias,
idéias não muito claras, confusas.
Escuto vozes e vejo imagens difusas,
desconexas, dentro dos pensamentos.
Será que estou acordado ou é sonho?
Isso tudo é real?
[...]
NÃO, isso não é real, não é real!!
A consagração do espírito...
O desprezar daquilo que se sente...
O despertar para o dia...
O desabrochar de uma flor...
O levantar vôo de uma sabiá!!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

"Saudações às palavras que chegam"

Para fazer esses versos, derramei muito suor,
custou muito do meu pensar, do meu sentir.
Até então vivi preso à razão,
não a razão necessária ao homem,
mas uma razão cegante, absoluta, idolatrada.

As palavras para expressar meu eu-existir-emoção
pareciam fugir, fugiram porém só nesse momento.
Quando era para falar de metafísica, do racional,
elas se ofereciam feito loucas, se abriam feito putas.
Pensei até em tentar escrever estes versos em francês,
para forçar um sentimentalismo piegas. Pardon pour moi!

Outra alternativa seria juntar várias palavras,
todas em um saco e sortiá-las, um poema-recorte...
É, admiro os dadaístas, conseguem falar do nada,
conseguem expressar-se sem escolher palavras,
conseguem mostrar sua não-angustia diante do nada.

Sim, parece que estou superando a Idade da Razão,
uma razão cognitiva e instrumental, algo mecanicista;
aproximo-me de uma maior harmonia, uma dilética,
entre uma razão humana e minhas emoções.
Queres uma prova, uma demosntração experimental??
Essas linhas aqui escritas, eis a prova!!

domingo, 10 de junho de 2007

Palavras, não mais que palavras

O vazio que até então eu sentia
parece agora se acabar,
as palavras voltam ao seu espaço
de onde nunca deviam ter saido.
O glorioso espaço no qual palavras,
não mais que palavras, são a alma do homem.

Minha seca foi grande, mas era apenas passageira,
uma gestação do que estava por vir.
O sabiá, agora, mudou seu tom,
não mais entoa em um "dó" grave e triste,
canta em um "si" provocante e faceiro.
Renasce a antiga voz.

Durante esse periodo, porém,
eu não fiquei parado, a observar o mundo perplexo.
Passei pro paixões, por lutas e derrotas,
consegui conquistas e vitórias inéditas,
todas, com certeza, foram experiências únicas.
Com tudo isso, as palavras teriam que voltar.

O tom da voz mudou, mas só o tom.
O seu objetivo contiua o mesmo
(e nunca deixará de ser).
Pois, é buscando novas vias,
alternativas que existem,
que se luta por mudanças.

domingo, 27 de maio de 2007

"Se os tubarões fossem homens..."


" 'Se os tubarões fossem homens', perguntou ao senhor K. a filha da sua senhoria. 'Eles seriam mais amaveis com os peixinhos?' 'Certamente', disse ele. 'Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo o tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre agua fresca e tomariam toda especie de medidas sanitarias. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, então lhe fariam imediatamente um curativo, para que ele não morresseantes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem melancólicos, haveria grandes festas aquaticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor que os tristes.Naturalmente, haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiamcomo nadar para as goelas dos tubarões. Prescisariam saber geografia, por exemplo, paralocalizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar. O mais importantesaria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinhoque se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que esse futuro só estaria asseguradose estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam evitar toda inclinação baixa,materialista, egoísta e subversiva, e avisar imediatamente os tubarões, se um dentre eles mostrasse tais tendencias. Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariamguerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos e lhe ensinar que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, eles iriamproclamar, são notoriamente mudos, mas silenciam em linguas diferentes e por isso não podem se entender. Cada peixinho que na guerra matasse alguns outros inimigos que silenciam em outra lingua, seria condecoradocom uma pequena medalha de sargaço e receberia o título de heroi. Se os tubarões fossem homens, naturalmente haveria arte entre eles. Haveria belos quadros,representando os dentes dos tubarões em cores soberbas, e suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos nadando com entusiasmo para as gargantas dos tubarõese a música seria tão bela que a seus acordes todos os peixinhos, com a orquestra na frente, sonhando, embalados nos pensamentos mais doces, se precipitariam nas gargantas dos tubarões. Tambem não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeiravida dos peixinhos começa apenas na barriga dos tubarões. Alem disso, se os tubarões fossem homens tambem acabaria a ideia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles poderiam inclusivecomer os menores. Isto seria agradavel para os tubarões, pois eles teriam, com maiorfrequencia, bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores, detentores de cargos, cuidariamda ordem entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, construtores de gaiolas, etc. Em suma, haveria uma civilização no mar, se os tubarões fossem homens.' "

BERTOLD BRECHT - HISTÓRIAS DO SR. KEUNER

domingo, 6 de maio de 2007

"Momentos antes do suspiro"


O telefone toca, insiste uma, duas, três vezes,
eu corro para atender, pensando que é ela,
estou ansioso, meu coração dispara, enlouquece.
Há tempos sonhava escutar novamente sua voz,
lembrar dos velhos sussurros ao pé do ouvido.

Ela, que está longe,estaria agora tão perto de mim,
o percurso para chegar ao telefone parece não ter fim,
cada toque dura uma eternidade, a saudade, porém, me cansa.
O seu beijo, sim, a lembrança de seu beijo me consome,
os seus apertos e abraços ainda me sufocam; o seu calor, atordoa.

Eu, feito criança, penso em chegar junto, nervoso, temeroso,
lembro da primeira vez que nos vimos, ela, ali, encantadora.
Minhas mãos repousam agora sobre o telefone, logo penso:
"Será que ela tem alguma surpresa ou apenas quer se distrair?"

Alguns segundos pareciam horas sem fim, eternos.
Eis aí a magia do cotidiano: pequenos fatos, aparentemente,
porém cheios de ilusões, tornam-se universais e derradeiros.
O canto do sabiá também pode soar como uma serena balada.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

"Sussurros do céu, choros da terra"

Céu cinzento, repleto de brumas, eis um dia chuvoso,
uma boa oportunidade de ficar em casa, refugiado.
Isso, porém, é para poucos: o homem-máquina não o pode,
tem que estar na rua, trabalhando, mesmo com o céu caindo,
em busca do seu salario, do seu existir, do seu viver.

Eu, na minha condição de burguês, desfruto do calor do lar,
aproveito para escutar um samba antigo e ler um bom livro.
Enquanto escrevo essas linhas, olhando lágrimas caírem,
lembro-me do meu amor, distante de mim, tão longe,
e com esse distanciar, ponho-me a tremer de frio.

Escuto lá fora ruídos da cidade, que se move sem parar,
mesmo com rios a se formar pelas suas ruas e avenidas,
mesmo com homens a gritar ao verem seus barracos sumirem
em meio a um mar de lama e agora repousarem de baixo do morro.
A cidade não para, sempre há engrenagens para substituir
[as desgastadas.

Se essa mesma tempestade caísse no sertão, seria diferente,
com as primeiras gotas, os sabiás se colocariam a cantar,
anunciando boas novas: a chegada da nova estação, da esperança.
É na cidade, contudo, que ela se esgota, se espreme,
assim como essas linhas, e caem, caem pesadas no asfalto frio.

Um dia chuvoso, parece ser um simples desabar de pingos,
mas envolve uma multiplicidade de existências, afeta a tudo
[e a todos.
Faz-me lembrar a falta do calor de seu seio, faz-me rir e chorar,
nas batidas de um samba e nas batidas das estacas,
marcadas a suor e sangue das formiguinhas-operários, lá em baixo.

sábado, 21 de abril de 2007

"Enquanto isso em um parque qualquer..."

Um banco, nos campos do parque, não é um simples banco,
não é só um amontoado de madeira, ele representa algo mais.
Pode ser o lugar preferido de alguem ler um livro
ou um belo local para assistir ao derradeiro por-do-sol.

Sim, tenho certeza, esse banco foi cúmplice,
cúmplice de uma longa conversa sobre política,
na qual seus interlocutores discutiam a revolução,
esses também falavam sobre melhores dias que estão por vir.
Pode, ainda, ter sido uma simples conversa sobre mulheres,
analisando seus trejeitos, seus modos únicos de vir-a-ser,
a importância dessas existirem, afinal sem elas não existiria
[o homem.

Tal banco presenciou, também, falações enamoradas
entre cúmplices de um mesmo amor, que ficaram,
se prolongaram por toda tarde em um chamego gostoso,
de sussurros e abraços, de apertos e beijos.
Para o banco, e para os amantes, o tempo, ali,
com toda sua pressa de existir, se arrastava pela eternidade.

Mas se você pensar que naquele parque não há somente um banco,
e sim dezenas de bancos, percebemos a multiplicidade,
a riqueza, de conflitos, de reações, de existências no mundo.
Embaixo de cada àrvore daqueles campos, novas melodias, únicas,
eram compostas, novos versos eram escritos, ou ainda mais:
novos amores e novas maneiras de ver o mundo surgiam.