sábado, 31 de março de 2007

"Cobras da Noite"

(Em homenagem ao companheiro Denis, que me encomendou essas linhas, em uma de nossas jornadas pelas noites suburbanas.)

Ai de ti que me olhas com esses olhos de cão manco,
não te achas em nenhuma das faces as quais te observam,
perdido vagas pela noite, errante, sem destino, sem esperança.
Não sabes onde estais, se existes, apenas vives dia após dia.

Vejo fumaça diante de mim, parecem cobras a dançar,
uma dança louca, uma dança convitativa ao turpor.
Essa fumaça sai de mim, sai de ti, sai de nós,
como companheiros da noite, entretemo-nos em liberar cobras.

O barulho do bar não nos deixa libertar nossas mentes,
apenas existem olhos a observar, cães a latir.
Ai de nós que perdemos nosso tempo em soluçar bobagens,
porém são bobagens de uma vida boba, uma morte e vida viciada.

É, admito, cada momento é único, cada fumaça é única.
Logo, passar a noite entorpecido pelas ruas é único,
são locuras para ti, um homem careta, mas para mim,
um simples louco errante, é a arte de viver,
é a tragédia que é viver; e essa tragédia tão louca,
que de tanto amor, ela fere e cansa.

2 comentários:

Anônimo disse...

O vagar sem rumos por vezes nos conduz a caminhos desesperados...mas não raro somos surpreendidos por uma ordem que rege o caos. Há algo de confuso entre os seres, esse indefinido cuja existência dificulta(talvez)as relações simplórias nas quais poderia mergulhar a humanidade.Tarde, porém.
Temo. Atemera-me pensar que o torpor pode conduzir à torpeza... (nunca haveria de pensar no liame semântico dessas construções). De alguma maneira o estado em que precisamos permanecer para suportar é um reflexo amargo do mundo do qual buscamos refúgio. Onde quedarão os egos enquanto persistir a névoa? A lucidez é de um azedume fétido para os sonhadores? Será que dela fogem os apaixonados ou os covardes? Existe algo. que deve persistir. nada de maniqueísmos simplistas... sentir para definir; perceber intuindo o que se ofusca ou se omite.
Não, a loucura também é visceral. Tal como o andar.perdido. Erguer-se diante do confuso; precisamos distinguir. Mais que nunca, precisamos da nossa louca lucidez. Sim, Sabiá, "essa tragédia quer viver"...

Perdoe-me a invasão; se me permitires, continuarei a escrever a um canto de sabiá.

andré barreto disse...

Sim, companheira (o) anonima (o), fique a vontade, pode continuar a deixar suas impressoes aqui... e vou passar a discutir sobre tais problematizações convosco.