segunda-feira, 30 de abril de 2007

"Sussurros do céu, choros da terra"

Céu cinzento, repleto de brumas, eis um dia chuvoso,
uma boa oportunidade de ficar em casa, refugiado.
Isso, porém, é para poucos: o homem-máquina não o pode,
tem que estar na rua, trabalhando, mesmo com o céu caindo,
em busca do seu salario, do seu existir, do seu viver.

Eu, na minha condição de burguês, desfruto do calor do lar,
aproveito para escutar um samba antigo e ler um bom livro.
Enquanto escrevo essas linhas, olhando lágrimas caírem,
lembro-me do meu amor, distante de mim, tão longe,
e com esse distanciar, ponho-me a tremer de frio.

Escuto lá fora ruídos da cidade, que se move sem parar,
mesmo com rios a se formar pelas suas ruas e avenidas,
mesmo com homens a gritar ao verem seus barracos sumirem
em meio a um mar de lama e agora repousarem de baixo do morro.
A cidade não para, sempre há engrenagens para substituir
[as desgastadas.

Se essa mesma tempestade caísse no sertão, seria diferente,
com as primeiras gotas, os sabiás se colocariam a cantar,
anunciando boas novas: a chegada da nova estação, da esperança.
É na cidade, contudo, que ela se esgota, se espreme,
assim como essas linhas, e caem, caem pesadas no asfalto frio.

Um dia chuvoso, parece ser um simples desabar de pingos,
mas envolve uma multiplicidade de existências, afeta a tudo
[e a todos.
Faz-me lembrar a falta do calor de seu seio, faz-me rir e chorar,
nas batidas de um samba e nas batidas das estacas,
marcadas a suor e sangue das formiguinhas-operários, lá em baixo.

sábado, 21 de abril de 2007

"Enquanto isso em um parque qualquer..."

Um banco, nos campos do parque, não é um simples banco,
não é só um amontoado de madeira, ele representa algo mais.
Pode ser o lugar preferido de alguem ler um livro
ou um belo local para assistir ao derradeiro por-do-sol.

Sim, tenho certeza, esse banco foi cúmplice,
cúmplice de uma longa conversa sobre política,
na qual seus interlocutores discutiam a revolução,
esses também falavam sobre melhores dias que estão por vir.
Pode, ainda, ter sido uma simples conversa sobre mulheres,
analisando seus trejeitos, seus modos únicos de vir-a-ser,
a importância dessas existirem, afinal sem elas não existiria
[o homem.

Tal banco presenciou, também, falações enamoradas
entre cúmplices de um mesmo amor, que ficaram,
se prolongaram por toda tarde em um chamego gostoso,
de sussurros e abraços, de apertos e beijos.
Para o banco, e para os amantes, o tempo, ali,
com toda sua pressa de existir, se arrastava pela eternidade.

Mas se você pensar que naquele parque não há somente um banco,
e sim dezenas de bancos, percebemos a multiplicidade,
a riqueza, de conflitos, de reações, de existências no mundo.
Embaixo de cada àrvore daqueles campos, novas melodias, únicas,
eram compostas, novos versos eram escritos, ou ainda mais:
novos amores e novas maneiras de ver o mundo surgiam.