sábado, 31 de março de 2007

"Cobras da Noite"

(Em homenagem ao companheiro Denis, que me encomendou essas linhas, em uma de nossas jornadas pelas noites suburbanas.)

Ai de ti que me olhas com esses olhos de cão manco,
não te achas em nenhuma das faces as quais te observam,
perdido vagas pela noite, errante, sem destino, sem esperança.
Não sabes onde estais, se existes, apenas vives dia após dia.

Vejo fumaça diante de mim, parecem cobras a dançar,
uma dança louca, uma dança convitativa ao turpor.
Essa fumaça sai de mim, sai de ti, sai de nós,
como companheiros da noite, entretemo-nos em liberar cobras.

O barulho do bar não nos deixa libertar nossas mentes,
apenas existem olhos a observar, cães a latir.
Ai de nós que perdemos nosso tempo em soluçar bobagens,
porém são bobagens de uma vida boba, uma morte e vida viciada.

É, admito, cada momento é único, cada fumaça é única.
Logo, passar a noite entorpecido pelas ruas é único,
são locuras para ti, um homem careta, mas para mim,
um simples louco errante, é a arte de viver,
é a tragédia que é viver; e essa tragédia tão louca,
que de tanto amor, ela fere e cansa.

domingo, 11 de março de 2007

"Perdido, mas ainda cantante"

Estou perdido em trevas de pensamento,
algo confuso a minha pessoa, ao meu ser,
tão errante em uma vida convencionada real,
dita por alguns ideal, ou melhor, rica de prazeres.

Perdido em um som delirante, emito opiniões,
saberes desnecessários a uma pessoa qualquer.
Queria ser alguem simples, sem complicações,
ou até vazio, mas nao, sou complicado por natureza.

Tenho paixoes, emoções, convenções de sentimento,
estes ditos ideais, em vez de reais ou materias.
O ser nao é uma questão metáfisica, porém uma paixão,
uma necessidade de se encontrar no vazio desse meio,
tão físico ou real, depende de sua opinião ou melodia.

Ventos veludos, uivantes, cantantes, cativantes,
enfim, sofridos, frutos de um alma perdida, sem porto,
sem algo que se segure, somente o ébrio da noite eterna.
Estes vagam pelo infinito da existência dos senhores,
que mais uma vez tambem estão perdidos em aparências.

Eis uma sabiá a voar, perdido na imensidão da realidade,
já confundida por alguns em virtual ou imaginária.
Imagens essas impostas ao meu ser, contudo não aceitas,
uma vez que em meu silêncio grito na escuridão vazia:
as flores da aparência ainda murcharão, ainda morrerão
diante da luz forte dos espíritos que se libertam,
tal liberdade ainda aflita, mas já certeira.

Não tenhas medo deste poeta impulsivo, confuso,
ou melhor, pós-moderno, ainda no real derradeiro.
As trevas transformaram-se em luz, ja que o novo,
ultrapassando o velho tão conservado, sempre vem,
vem comum a todos, amarelos, azuis, vermelhos,roxos,
de todas as melodias loucas do movimento velado.
Esse movimento é interativo, é contestado, é ,assim,
imoral, utópico, de todos os modos prevalece vivente.

sábado, 3 de março de 2007

" Elógio ao real "


Tenho medo de me envolver com essa flor,
arranhar-me em seus espinhos,
entorpecer-me em seu nectar,
me perder em suas folhas, ou até mais:
perder-me a mim mesmo e não conseguir mais
ler meus sentimentos, meus desejos, meus sonhos.


Essa flor que vos apresento, não é uma simples flor,
ela pode ser qualquer ente ou coisa que te rodeia,
qualquer coisa que te tenha, que te roube a mente,
qualquer coisa que te prenda, ela pode ser desse mundo
[ou de outros,
pode ser de qualquer hiper-realidade, de uma macro-realidade,
de uma pseudo-realdiade, de um espetáculo-construída-realidade.

Porém algo é certo: essa flor irá te afastar de tudo, de todos,
de teu mundo, do mundo do outro, irá afastar do mundo-nosso.
Irá te prender em um real-espetacular, em um novo mundo,
em que o importante não é "ser", muito menos "ter",
mas algo mais fascinante: "parecer" - a ditaduta das imagens!!

Não penses que estou louco, nem em ébrio,
até porque não há diferença entre o louco e o "normal",
eles apenas têm diferentes pontos de vista, vêem tudo
ao seu redor com outros olhos, um tem a sua visão
normalizada socialmente, de maneira que as outras são delírios.