segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

" Versos de uma noite sem luar"


Eu grito; acho, porém, que ninguem os esculta,
me vejo mergulhado em um mar de trevas,
estou em meio a escuridão,
há uma luz lá no alto, mas está longe.
Os ecos do meu grito, são fracos,
mais parecem um choro de recem-nascido,
não sabem porque existem.

Escuto outras vozes, outros ruídos, outros suspiros,
não os entendo, parecem abafados por um vento sufocante.
De repente um estrondo, um estalo, uma voz lá longe,
não é nada, apenas outras vidas perdidas na noite.

Todo poeta, antes de tudo, é um fingidor,
finge dores, angustias, alegrias, desesperos
que até pode sentir, contudo tu que escutas,
não sentes, não ves, apenas ver a palavra, o simbolo,
que está ali carregando aquela ideia, aquele sentimento.

Libertai-vos espiritos livres, usem de sua juventude,
esqueçam a noite, os gritos, as vozes, os susurros.
Busquem a liberdade, não a liberdade dos presos,
dos imbecis, dos puros, mas a liberdade do existir,
a liberdade independente da essência ou das imagens.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ainda que não poetas, somos todos visceralmente egóicos. A congruência do símbolo guarda em si incontáveis adornos feitos à maneira de moldura da identidade... Quão parcos são os encontros das puras e irrefletidas impressões! Finalmente se faz sol; a infungível sensação de ver/sentir a luz que dá lugar às sombras e gritos(im-expressões do desespero que afige muitas os noctívagos) tomar das brumas o espaço. Mais. Do mesmo infinito que nos aflige ao levar de nós as réstias de sol sair a luz de que se valem os temerosos do escuro...
Sim, talvez os gritos se propaguem no ir e vir das ondas que trazem a noite.Não obstante, o silencio sinalagmaticamente o faz. Pudeste senti-lo.
Ainda que verbetes por vezes tragam em si algo de falacioso, o silêncio desmascara o discurso, pois apenas o refletir que traz consigo é capaz de denunciar qualquer cumplicidade.
A isso não fogem os poetas; pelo contrário - recorrer ao sentir é um dos raros caminhos conducentes à compreensão de suas aflições. deveras, aí está a liberdade: sorrir e silenciar sem medo. Perceber sem medo. Cerrar os olhos sem medo...
Alguns sóis se põem no mar; muitos outros mais, porém, despedem-se das águas do horizonte para tornarem azuis as trevas. o mais belo na escuridão é o contraste que podemos dela fazer.A mágica dos paradoxos consiste na oportunidade que somente a natureza(ainda que a nossa) oferece de harmonizarem-se, pois há trevas no mais claro dos dias e éxiste a paz do equilíbrio no mais negro deles.

(evidentemente poeta, inevitavelmente amante de algo)